Na verdade, a queda do regime soviético e as reformas da China, iniciadas no final dos anos 70, foram, em grande medida, consequência do fenómeno da globalização que se acentuou de forma extraordinária a partir da década de 80, com a liberalização da circulação de capitais, primeiro realizada pelo governo de Margaret Thatcher, no Reino Unido, depois estendida aos EUA e, no início dos anos 90, à União Europeia. Para isso muito contribuíram também o desenvolvimento da capacidade de transmissão de dados à distância e, em particular, a partir de meados dos anos 90, o desenvolvimento explosivo da Internet.
Composta por dez Estados até 1985, a CEE alargou-se a 12 com Portugal e Espanha, em 1986. A presença de Portugal nas instituições comunitárias consagrou-se como um choque de modernidade em toda a sociedade, subitamente envolvida num exercício em que se misturava um entusiasmo de neófito com alguma inconsciência otimista.
Muitas áreas da vida portuguesa fervilhavam então sob a perceção de que, com a adesão às Comunidades Europeias, estava aberto o caminho para um futuro diferente. Salvo para alguns setores políticos minoritários, mais céticos quanto aos efeitos positivos automáticos dessa súbita fortuna, a “bondade” natural da ideia europeia, muito apoiada na sedução dos cifrões que se iam anunciando e concretizando com forte impacto no PIB nacional, foi-se impondo com alguma naturalidade.
Há que reconhecer que o deslumbre se vestiu, frequentemente, de algum facilitismo, estimulando iniciativas que se provaram desajustadas, seguindo uma hierarquia de projetos e realizações que o futuro veio questionar. A ausência de mecanismos para o controlo rigoroso de alguns gastos deu então origem a descaminhos e apropriações indevidas que ficaram na memória caricatural do país.
Porém, com todos os erros e desvios, a Europa acabaria por se revelar o mais poderoso mecanismo transformador da sociedade portuguesa, em muitas décadas.
Esse impacto, globalmente inegável, seria, no entanto, assimétrico nos seus efeitos. Alguns setores viram a sua obsolescência acelerada, por estarem menos preparados para a competição num mercado interno com um grau de exigência acima da capacidade tradicional do país. A isso se cumularam as consequências de uma globalização a que toda a Europa comunitária se abria, mas que, entre nós, se abateu sobre setores não modernizados e que ainda estavam em claro contraciclo com o modelo produtivo e comercial europeu. Algumas sérias consequências sociais, com impactos regionais localizados, acabaram por emergir.
Em paralelo, o processo de integração europeia foi-se aprofundando, com concretizações fundamentais. Em particular, a criação do Mercado Único, tendo em vista uma maior liberalização da circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais. O Acordo de Schengen, assinado, em 1985, pela Alemanha, Bélgica, França, Luxemburgo e Países Baixos, já tinha, aliás, como propósito permitir a livre-circulação dos seus cidadãos, alargando essa possibilidade a cidadãos de outros Estados-membros. O acordo é complementado com a Convenção de Schengen, em 1990. Gradualmente, vários Estados vão aderindo: Itália (1990), Portugal e Espanha (1991), e Grécia (1992).
O Mercado Único entrou em vigor com o Tratado de Maastricht (ou da União Europeia) – assinado em fevereiro de 1992, numa cerimónia presidida por Aníbal Cavaco Silva, enquanto presidente do Conselho Europeu – que abriu caminho a uma futura moeda única (o euro), alargou as possibilidades de cooperação nos domínios dos assuntos internos e de uma Política Externa e de Segurança Comum (PESC) e previu, ainda, a figura da cidadania europeia. A CEE tornou-se Comunidade Europeia (CE). Maastricht foi o momento em que a Europa, acordada do pesadelo da Guerra Fria, entendeu ter condições para se afirmar politicamente, à altura do seu peso económico na balança global.