O período de intenso processo revolucionário (1974-1975) que se seguiu aos acontecimentos de Abril de 1974 ficou dominado pela descolonização, por diplomacias paralelas, por indefinições várias e uma intensa instabilidade, reflexos de um país que saía de quase cinquenta anos de regime ditatorial. Os governos provisórios sucederam-se, as diversas fações definiram-se, disputando o poder e confrontando-se; lutou-se pela democratização do país e pela defesa das liberdades fundamentais. A vitória coube à democracia e ao pluralismo partidário.
Um segundo momento, já em plena vigência da Constituição, iniciado, em 1976, com a posse do I Governo Constitucional, ficaria marcado pela normalidade democrática e também pela redescoberta da vocação europeia e atlantista e o recentramento do país no contexto europeu. Portugal, já sem o Império, procurava assim uma nova identidade e um novo desígnio nas relações internacionais. Complementarmente, assumia-se como uma nação pacífica atribuindo grande importância ao bom relacionamento e ao reforço dos laços de amizade com as suas antigas colónias. Para todos os efeitos, estava definitivamente ultrapassada a época do isolacionismo, refúgio e reflexo de impotências várias, e tudo podia, de novo, ser posto em causa: era necessário reencontrar um rumo e definir estratégias e percursos, avaliar possibilidades, trilhar caminhos novos e reajustar outros antigos.
A aproximação de Portugal às estruturas europeias consumou-se, logo em 1976, com a integração no Conselho da Europa e a renegociação do Acordo de Comércio Livre Portugal-CEE de 1972 que culminou com a assinatura de alguns protocolos adicionais. Por fim, em novembro de 1976, o governo português foi autorizado pela Assembleia da República a solicitar a adesão de Portugal às Comunidades Europeias. Nos primeiros meses de 1977, o Primeiro-ministro Mário Soares, juntamente com o ministro José Medeiros Ferreira, desencadearam uma importante ação diplomática junto dos chefes de Estado e de governo dos países comunitários no sentido de conseguir o seu apoio para a adesão portuguesa.
O pedido de adesão à então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE), formulado a 28 de março de 1977, representa um enorme ponto de viragem nas relações internacionais e, em particular, na política externa portuguesa. Os argumentos utilizados são bem conhecidos e serviram quer para justificar a adesão, quer para acabar com algumas veleidades de “independência nacional”, fundamentadas num desenvolvimento autocentrado, defensivo e protecionista, que era preconizado por algumas organizações políticas e sociais: primeiro porque a integração na Europa representava não só o reconhecimento definitivo de Portugal como um estado democrático e de direito como constituía um poderoso reforço da nossa, como então se dizia, frágil democracia; depois, segundo argumento, porque o regresso às fronteiras europeias determinava um novo esforço de modernização e de desenvolvimento que só a solidariedade dos países mais ricos da Europa, traduzida em ajudas comunitárias, poderia propiciar.