É hoje pedido às lideranças nacionais que tentem contribuir, à sua escala e com o poder de intervenção de que dispõem, para equipar a União Europeia com instrumentos que, cada vez mais, consigam afirmar o bloco no quadro global, em termos geopolíticos e geoestratégicos. O tempo dos individualismos, exercícios de visibilidade, muitas vezes para capturar dividendos políticos à escala nacional, parece ser uma coisa do passado. O facto de a "capital" das presidências ser, cada vez mais, Bruxelas, pode contribuir para este tropismo.
Uma presidência assenta, nos dias que correm, na concentração na agenda que emana da continuidade, reforçada pelo mecanismo do trio de presidências, para a qual se pede a contribuição do governo nacional ao qual compete gerir o semestre. Na capacidade que cada um dos países tenha de projetar a diversidade sem prejudicar o esforço conjunto essencial reside o seu êxito.
No caso da presidência portuguesa de 2021, há uma prioridade que foi ditada pela conjuntura: a pandemia é o tema central e, ao mesmo tempo, o fator condicionante de todo o processo. Mas a Europa não para à porta dessa condicionalidade. Os desafios climáticos, que se travam no tempo curto que a humanidade tem perante si para evitar uma tragédia sem recuo, associados à transição energética, a revolução digital e um reforço visível da dimensão social europeia, numa sociedade política que teima em acreditar que a economia são cidadãos e não apenas números, em tudo isso assenta o esforço que Portugal se propõe desenvolver no seu semestre.
A proposta de trabalho de Portugal é, assim, a de contribuir para uma União Europeia mais resiliente, social, verde, digital e global. A realização de uma Cimeira Social enquadra-se, precisamente, neste grande desafio com que a União Europeia se debate, que é a recuperação das duras consequências económico-sociais que a pandemia da Covid-19 tem provocado. Uma estratégia que passará pelo reforço do Modelo Social Europeu, bem como pelo desenvolvimento do Pilar Europeu dos Direitos Sociais.
A Europa não pode deixar de olhar para fora, para as suas parcerias, para a oportunidade que uma nova presidência americana pode trazer. Mas também para essa “nova fronteira” que é a região do Índico e do Pacífico. Com a Índia, sob iniciativa portuguesa desde 2000, a Europa vai prosseguir ali um diálogo renovado. Quanto à China, a União Europeia terá de continuar a estruturar uma estratégia de diálogo que compatibilize o binómio oportunidade/desafio com as perspetivas próprias do grande parceiro do outro lado do Atlântico.
São muitos os desafios, num tempo que é de “agir”, tal como consigna o lema desta quarta presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
Afinal, como diz Eduardo Lourenço, foi na Europa que se forjou o mundo moderno. E a modernidade do mundo. Lembremo-nos disso.